Texto: Daniel Acruche Fernandes
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O Big Wall é uma das modalidades do Alpinismo ou Montanhismo, exige que os escaladores permaneçam dois ou mais dias em grandes paredes verticais até alcançarem o topo. Apesar de o Alpinismo ter iniciado no final do século 18 foi só no início do século 19 que o homem alcançou conceitos, técnicas e equipamentos para subir os maiores e mais verticais paredões de rocha. A Escalada de grandes paredes exige muito mais que coragem e habilidades físicas. O planejamento é parte essencial e qualquer erro nesta fase pode levar a expedição ao fracasso. Tudo começa na definição do objetivo e na autorização dos proprietários, na escolha dos dias com boa previsão do tempo, na folga do trabalho e na aquisição dos suprimentos. O ideal é não faltar nada essencial e não ir nada supérfluo ou em excesso, pois peso e volume são fatores limitantes nesta jornada.
A Torre do Funil esta localizada no município de Bom Jardim Da Serra em propriedade particular e próximo a borda do Cânion de mesmo nome. A torre tem o formato triangular e seu cume é totalmente isolado alcançado somente por escalada em rocha de aproximadamente 200 m. A primeira ascensão foi realizada por uma equipe gaúcha em agosto 2005, formada por Elton Fagundes, Rafael Seco e Moisés de Oliveira.
(A esquerda, croqui da Via Quebra Tudo, dos gaúchos.)
A formação geológica da região data de cerca de 150 milhões de anos, na era da separação dos continentes e formação do oceano atlântico. A rocha predominante é o basalto e as paredes são gigantes, mais na sua maioria com muita vegetação e pedras soltas porem naquela infinidade de muralhas de rocha e vegetação, existem algumas de rochas limpas e excelentes para escalar! Sendo assim o céu e o limite!
A equipe formada por 4 Escaladores, Daniel Acruche Fernandes, Fabiano Ronchi, Fernando Henrique (Nando Grillo) e Filipe Ronchi, tem anos de experiência em escaladas nas serras brasileiras, cordilheira dos Andes e Patagônia. Fabiano foi nosso câmera man, registrando em imagens nossa aventura! Nosso objetivo a principio era repetir a via dos gaúchos, mas depois de ver fotos da parede mudamos de idéia, então abrir uma nova via de escalada e que fosse possível escalar totalmente em “Free Climb! Procurávamos também utilizar o máximo de ancoragens naturais onde pudéssemos utilizar nossos equipamentos móveis, deixando assim o mínimo de vestígio, fazendo uma escalada limpa, como sempre desejamos com muitas fendas!!! Nosso maior desafio logístico era levar todos nossos mantimentos ao campo base, que ficava a 60m do chão em duas pequenas grutas que nos serviram de casa durante 4 dias. Além do equipamento pesado de Big Wall e de conquista levávamos: comida, fogareiro, sacos de dormir, roupas, medicamentos, equipamento fotográfico e 40 litros de água! Sim 40 litros e não era muito, dava uma média de 2,5 litros por pessoa/dia. Para chegar até a base da torre é necessário caminhar 8km, fixar 180m de corda para descer até o col (ligação entre duas montanhas), abrir caminho numa densa floresta de bambus até a base, escalar 60m em duas enfiadas de corda e içar tudo até a gruta, que foi apelidada pela equipe gaúcha de “Caverna dos Sonhos”. Levamos um dia para fixar as cordas da borda dos cânions até base da torre e outro para abastecer o campo base.
Os primeiros 55m de escalada acima da caverna exigiram bastante levando um dia e algumas horas da manhã seguinte em uma artificial de flutuar nos estribos! Eu e o Filipe nos revezamos nesta enfiada que foi de fritar os miolos e na manhã seguinte cheguei ao platô da Hortelã, onde esta a P4. Acrescentamos 6 proteções fixas a esta enfiada para que ele fosse escalada em livre, saiu um 8a de 55m com proteções mistas. Após este trecho a montanha nos presenteou com rocha de ótima qualidade e avançamos até o cume neste mesmo dia, o terceiro, escalando tudo em livre e o melhor com proteções móveis! Nando guiou a quinta e sexta enfiadas chegando até o platô do Olho do Macaco, com certeza a enfiada mais bonita da via, sai em um lindo diedro! A ultima enfiada é curta e entre off whichs e agarras, de repente cume!!!
(A direita: Galera no Cume! A esquerda: em amarelo linha do rapel e col. Em vermelho linha da Via Hollywood incluindo cordada até P3 da Via Quebra Tudo.)
Ficamos surpresos em alcançar o cume tão rápido, fixamos as cordas do cume até a Caverna dos Sonhos para retornar no dia seguinte e fazer muitas imagens aéreas. Uma equipe de profissionais da imagem, formada pelos fotógrafos Anders Duarte, Miguel Carvalho e Cristian Stassum nos observava com drones e super câmeras para posteriormente produzir um vídeo documental. Todos os dias que estávamos escalando recebemos visitas de pessoas que nos observávamos da beira do cânion, ficamos até condicionados, na espera de encontrar alguém nos vendo, nos sentimos como “macacos de circo”, só faltaram jogar comida se bem que preferíamos água! Isso nos inspirou a chamar esta nova rota de ascensão ao cume da Torre do Funil de Hollywood 7(8a/A2)E3. Uma via linda de ótima qualidade que merece muitas repetições! As coisas ocorreram de maneira perfeita e quando retornamos a borda do cânion nossos amigos nos esperavam com vinho e churrasco!!!
Agulha do Funil, ela que caracteriza o nome do Cânion.
Uma conquista como esta não se faz sozinho! Agradecemos a o apoio das empresas: Garra Aventura, Cerveja Climb, Alto Estilo, Conquista Montanhismo, Stonehenge Alpinismo Industrial, Casa de Aventura, Beta Mountain Café, Bonier e Photografhic Photo e Vídeo.